Cientistas descobrem sotaque em primatas da Ásia
Canção do gibão pode indicar tanto seu parentesco como a região de origem
Fêmea e filhote em um parque da Indonésia: cientistas descobrem diferentes entre gibões do norte e do sul (Anup Shah )
O sotaque não está presente apenas na fala dos seres humanos. Em estudo publicado no periódico britânico BMC Evolutionary Biology, cientistas apontam variações regionais na comunicação entre gibões, família de primatas natural da Ásia.
O gibão se comunica por meio de 'canções', ou vocalizações — uma espécie de grito longo e característico — para definir território e parceiros de acasalamento. Os pesquisadores do Centro Alemão de Primatas estudaram gibões das florestas tropicais da China, Camboja e Vietnã, e descobriram diferenças entre populações ao norte e ao sul, além de variações entre as espécies. A equipe de pesquisadores analisou mais de 400 amostras de canções usando 53 parâmetros acústicos.
Norte e Sul - Os primatas do Camboja e Vietnã tinham o DNA mais parecido e foram reconhecidos como sendo da mesma região, embora pratiquem quatro padrões de canções. Já duas espécies do norte do Vietnã e China tinham 'sotaques' notadamente diferentes dos parentes do sul. Os cientistas descobriram que, quanto mais ao norte, tanto mais diferentes eram os sotaques. "Os resultados mostram que as canções dos gibões não dão pistas apenas sobre o parentesco, mas também sobre o lugar de onde vieram", escreveram os autores. "Cada gibão tem sua canção, mas, assim como os humanos, existem semelhanças entre os animais de uma mesma região."
Segundo o especialista em zoologia João Vasconcelos, da Unicamp, não é a primeira vez que se observa sotaque em animais. A diferença no modo de se comunicar entre bichos da mesma espécie, mas de regiões diferentes, já foi observada em pássaros e anfíbios. "Além de diferenças no canto de uma região para outra, em algumas situações é possível identificar variações até entre indivíduos da mesma população", diz.